Alimentar seu bebê prematuro com leite materno

O leite materno é especialmente importante para o bebê prematuro, mas amamentar diretamente no peito pode ser um desafio. Leia os conselhos de nossos especialistas para que seu bebê prematuro possa receber todos os benefícios do seu leite

Feeding your premature baby breast milk
Medela expert Katsumi Mizuno
Professor Katsumi Mizuno, Department of Paediatrics, Showa University Koto Toyosu Hospital:
Katsumi é um dos mais prestigiados pediatras na área de neonatologia do Japão, um consultor certificado em aleitamento e também Professor de Pediatria na Universidade de Medicina de Showa. Os seus interesses como investigador incluem a sucção do bebé, os bancos de leite e a utilização do leite materno na ajuda aos bebés prematuros em unidades de cuidados intensivos neonatais.

Se seu bebê nascer antes de 37 semanas, será classificado como prematuro.1 Nem sempre sabemos o que provoca o nascimento prematuro, mas existem fatores que aumentam as probabilidades. Esses fatores seriam, entre outros, a gravidez de gêmeos ou múltiplos, algumas condições de saúde que afetam a mãe ou o feto, ou a mãe já ter tido um bebê prematuro.

Como os bebês prematuros ficam menos tempo no útero, ainda precisam de mais crescimento e são mais vulneráveis a doenças e infecções. Eles podem também precisar de algum tempo na unidade de tratamento intensivo neonatal (UTI Neonatal).

Por que o leite materno é tão importante para o bebê prematuro?

O leite materno é importante para o crescimento e desenvolvimento ideal dos bebês de termo, e mais ainda dos prematuros.

Fatores importantes como o DHA (ácido graxo vital para o desenvolvimento saudável do cérebro e da visão) e a imunoglobulina G (anticorpo) são transportados da mãe para o feto através da placenta, ao longo da gravidez.2,3 Como nasce antes do tempo, o bebê prematuro não recebe totalmente esses fatores importantes ainda no útero. No entanto, o leite das mães de prematuros contém mais gorduras e imunoglobulina secretora do que o de mães de bebês de termo.4

O bebê prematuro também tem o trato gastrointestinal imaturo, o que pode provocar dificuldades na digestão e absorção de nutrientes. Por isso, precisa de um alimento que seu frágil intestino possa processar com facilidade. Seu leite materno contém enzimas que contribuem para a digestão do bebê,5 além do fator de crescimento epidérmico, que ajuda o intestino a amadurecer.6 Os bebês prematuros alimentados principalmente com leite materno têm permeabilidade intestinal significativamente menor do que a dos bebês alimentados com predomínio de fórmula láctea, o que significa que menos partículas (potencialmente causadoras de doenças) conseguem atravessar o revestimento do intestino e entrar na corrente sanguínea.7

O leite materno é tão importante para o bebê prematuro que, se a própria mãe não conseguir, por alguma razão, fornecer leite suficiente no início, ele deve ser alimentado com leite doado por outras mães que amamentam, no lugar de fórmula láctea. 

O leite materno oferece melhores resultados para o bebê prematuro?

Seu leite materno contém agentes protetores que ajudam a prevenir condições sérias a que o bebê prematuro está suscetível,8 como infecções graves,9 retinopatia da prematuridade (que pode provocar perda da visão)10 e displasia broncopulmonar (doença pulmonar crônica).11

Quanto mais leite materno seu bebê receber, menor o risco de doenças.12 Cada 10 ml a mais por dia, por kg de peso do bebê, reduzem o risco de sepse em 19%.9 E o risco de enterocolite necrosante (ECN), uma condição intestinal potencialmente fatal, é até dez vezes menor em bebês prematuros que recebem leite materno do que nos alimentados com fórmula.13 Por isso, todas as gotas contam!

Ainda mais importante, os bebês prematuros alimentados com o leite de suas mães tendem a ter alta, em média, duas semanas antes que os alimentados com fórmula láctea.14 Eles também têm quase 6% menos probabilidades de reinternação no primeiro ano.15

A longo prazo, também está provado que o leite materno melhora o desenvolvimento mental e físico – pesquisas mostram que os bebês com baixo peso de nascimento, que receberam leite materno na UTI, têm uma vantagem de cinco pontos no QI em relação aos que não receberam15 – além de melhor função cardíaca mais tarde.17

Vou ter leite se meu bebê nascer antes do tempo?

Sim – as mães estão prontas para produzir leite materno no meio da gravidez. Quando a placenta é expelida após o parto, seus níveis de progesterona, hormônio da gravidez, caem, permitindo que os seios comecem a produzir colostro, o seu primeiro leite. Normalmente, a produção de leite da mãe é ativada quando o recém-nascido pega a mama e suga com ritmo. No entanto, se seu bebê nascer antes do tempo, pode não conseguir mamar no início.

Você pode reproduzir as sensações que ativam a produção estimulando seus seios e mamilos com as mãos, ou utilizando um extrator de leite, que ajuda a coletar o colostro rico em proteínas para dar ao bebê.18 Veja abaixo o que fazer se seu bebê prematuro ainda não conseguir mamar.

Normalmente, o leite materno "desce" cerca de dois a quatro dias após o parto, mas no caso de parto prematuro isso pode acontecer um pouco mais tarde. No entanto, um estudo recente mostra que o leite das mães que extraíram dentro de uma hora após o parto desceu no tempo esperado.19 Também por isso é importante extrair leite o mais cedo possível.

Como posso me preparar se souber que meu bebê será prematuro?

Visite a unidade de tratamento intensivo neonatal (UTI Neonatal) para saber como funciona e como o pessoal cuida dos bebês prematuros. Também ajuda saber como o leite materno é produzido e extraído, e compreender sua importância não só como nutrição mas também como medicamentos para esses bebês – leia mais no e-book gratuito da Medela A Surpreendente Ciência do Leite Materno.

E se meu bebê prematuro não conseguir mamar?

Muitos bebês nascidos antes de 34 semanas têm dificuldade em coordenar a sucção, a deglutição e a respiração. Até seu bebê aprender, os enfermeiros colocam suavemente uma sonda na barriga dele, através do nariz ou da boca, para que ele seja alimentado. Todas as sessões de alimentação do bebê são feitas assim, até que ele consiga mamar no seu peito.

Se seu bebê estiver muito fraco para manter a pega e mamar, você pode usar o extrator de leite do hospital ou maternidade para "ser o bebê". Estimular os seios com tecnologia de iniciação baseada em pesquisa20 – que imita os padrões de sucção do bebê humano – nas primeiras horas21 é importante para ajudar a iniciar e manter sua produção de leite.

Você deve extrair leite com a mesma frequência com que um recém-nascido saudável mama normalmente. Isso significa extrair a cada duas ou três horas – ou seja, no mínimo de oito a 12 vezes durante 24 horas.

Algumas mães conseguem administrar pequenas quantidades de leite materno extraído com uma seringa, diretamente na boca do bebê. Ou você pode colocar cotonetes embebidos em leite materno na boca do bebê.22 Dessa forma, ele sente o sabor do seu leite – o que pode facilitar a transição para a amamentação completa – além de revestir a boca com os componentes imunológicos e protetores do leite materno. Existem muitas formas de se envolver, por isso pegunte aos profissionais de saúde o que você pode fazer pelo seu bebê. 

Os bebês com peso de nascimento muito baixo, com menos de 1,5 kg, muitas vezes precisam de mais proteínas, cálcio e fósforo. Por isso, recebem um fortificante junto com o leite materno. Em alguns países há fortificantes derivados de leite humano, mas aqui no Japão são produzidos com leite de vaca.

Poderia me fornecer algumas dicas sobre extração de leite?

Se seu bebê for ficar na UTI Neonatal por algum tempo, os neonatologistas recomendam o uso de um extrator de leite duplo para que você possa alimentá-lo – eu recomendo sempre o Symphony Medela. A extração dupla não só possibilita extrair mais depressa, mas também fornece, em média, 18% mais leite do que a extração de uma mama de cada vez.23

Também encorajo a mãe a procurar a situação mais confortável possível para a extração. É amplamente reconhecido que o melhor momento de extrair leite é logo após ou durante o contato prolongado pele a pele (confira mais sobre o "método canguru" abaixo) ou quando você estiver ao lado do bebê na cama, olhando para ele enquanto extrai. A ocitocina, hormônio que provoca o reflexo da descida de leite, é liberada quando você olha, toca, cheira e pensa no seu bebê.24 Por isso, o pessoal da UTI Neonatal deve providenciar um local confortável e relaxante para você ficar junto dele.

O que é o método canguru para bebês prematuros?

O método canguru é quando os pais mantêm o recém-nascido em contato pele a pele com o peito nu, durante longos períodos. Isso traz benefícios surpreendentes para você, seu bebê e sua produção de leite. O contato pele a pele ajuda a acalmar o bebê e a regular sua respiração e ritmo cardíaco. Além disso, o bebê fica aquecido e pode descansar junto de você ou do seu companheiro. O método canguru também está associado a mais saúde para o bebê prematuro.25 Para a mãe, está relacionado a aumento do volume de leite extraído26 e amamentação mais prolongada.27 O contato pele a pele durante 30 a 60 minutos antes da alimentação permite que o bebê acorde naturalmente e sinta fome, em vez de você apressá-lo.

E se o pessoal da UTI Neonatal oferecer fórmula?

Não hesite em avisar que você quer alimentar o bebê com leite materno, e não com fórmula láctea. Se seu leite materno não for suficiente para o bebê, peça ajuda ao pessoal da UTI Neonatal para aumentar sua produção.

É normal as mães com bebês na UTI Neonatal ficarem preocupadas ou estressadas. Às vezes esses sintomas podem afetar a produção de leite, por isso é muito importante pedir toda a ajuda necessária. Lembre-se de que você tem o direito de pedir apoio. Os profissionais de saúde podem apresentá-la à pessoa indicada para ajudar na amamentação, como um consultor em aleitamento materno.

E os bancos de leite de doadoras?

A Academia Americana de Pediatria declarou que, se o leite da própria mãe não estiver disponível, mesmo com apoio significativo na amamentação, deve ser utilizado leite de doadoras pasteurizado.28 Os bancos de leite certificados têm elevados padrões de avaliação e teste de potenciais doadoras, para proceder à pasteurização e testar o leite antes do uso em hospitais, de modo a minimizar o potencial de transmissão de infecções.

Como consigo passar da extração para a amamentação direta?

Independentemente da idade gestacional do seu bebê, se ele estiver estável o suficiente para ter contato pele a pele, você pode observar que ele procura sua mama para praticar a sucção (não nutritiva). É a forma perfeita para que ele comece a aprender a mamar antes de conseguir coordenar totalmente a sucção, a deglutição e a respiração.

Os bebês adoram o cheiro do leite das mães. Por isso, extrair um pouco e deixar no mamilo antes de colocar o bebê no peito pode ajudá-lo a encontrar o mamilo e fazer com que queira sugar. Ele pode até conseguir mamar um pouco durante a pega. Não se preocupe se parecer que ele faz muito pouco – ele está sempre aprendendo. Ele pode começar a mamar uma ou duas vezes e passar para a amamentação completa. Até lá, o bebê pode ser alimentado com sonda enquanto você o segura junto ao peito, pois isso pode ajudá-lo a associar sua mama e seu leite ao fato de ficar com a barriga cheia.

A amamentação não nutritiva pode começar assim que você se adaptar ao método canguru, desde que o bebê não tenha bradicardia (ritmo cardíaco lento) ou dessaturação (pouco oxigênio no sangue). Depois, seu bebê fará a transição para a amamentação logo que conseguir. Com o tempo, e de forma gradual, ele irá desenvolver força para manter a pega da mama por mais tempo e ingerir mais leite.

Referências

1 World Health Organization. Geneva, Switzerland; 2018. Media Centre: Preterm birth fact sheet; November 2017 [26.03.2018]. Available from: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs363/en/

2 Duttaroy AK. Transport of fatty acids across the human placenta: a review. Prog Lipid Res. 2009;48(1):52-61.

3 Palmeira P et al. IgG placental transfer in healthy and pathological pregnancies. Clin Dev Immunol. 2012;2012: 985646.

4 Underwood MA. Human milk for the premature infant. Pediatr Clin North Am. 2013;60(1):189-207.

5 Pamblanco M et al. Bile salt‐stimulated lipase activity in human colostrum from mothers of infants of different gestational age and birthweight. Acta Paediatr. 1987;76(2):328-331.

6 Dvorak B. Milk epidermal growth factor and gut protection. J Pediatr. 2010;156(2):S31-35.

7 Taylor SN et al. Intestinal permeability in preterm infants by feeding type: mother's milk versus formula. Breastfeed Med. 2009;4(1):11-15.

8 Newburg DS. Innate immunity and human milk. J Nutr. 2005;135(5):1308-1312.

9 Patel AL et al. Impact of early human milk on sepsis and health-care costs in very low birth weight infants. J Perinatol. 2013;33(7):514-519.

10 Zhou J et al. Human milk feeding as a protective factor for retinopathy of prematurity: a meta-analysis. Pediatrics. 2015;136(6):e1576-1586.

11 Patel AL et al. Influence of own mother's milk on bronchopulmonary dysplasia and costs. Arch Dis Child Fetal Neonat Ed. 2017;102(3):F256-F261.

12 Meier PP et al. Improving the use of human milk during and after the NICU stay. Clin Perinatol. 2010;37(1):217-245.

13 Lucas A, Cole TJ. Breast milk and neonatal necrotising enterocolitis. Lancet. 1990;336(8730-8731):1519-1523.

14 Schanler RJ et al. Randomized trial of donor human milk versus preterm formula as substitutes for mothers' own milk in the feeding of extremely premature infants. Pediatrics. 2005;116(2):400-406.

15 Vohr BR et al. Beneficial effects of breast milk in the neonatal intensive care unit on the developmental outcome of extremely low birth weight infants at 18 months of age. Pediatrics. 2006;118(1):e115-123.

16 Victora CG et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet. 2016;387(10017):475-490.

17 Lewandowski AJ et al. Breast milk consumption in preterm neonates and cardiac shape in adulthood. Pediatrics. 2016;138(1):pii:e20160050.

18 Meier PP et al. Which breast pump for which mother: an evidence-based approach to individualizing breast pump technology. J Perinatol. 2016;36(7):493-499.

19 Parker LA et al. Effect of early breast milk expression on milk volume and timing of lactogenesis stage II among mothers of very low birth weight infants: a pilot study. J Perinatol. 2012;32(3):205-209.

20 Meier PP et al. Breast pump suction patterns that mimic the human infant during breastfeeding: greater milk output in less time spent pumping for breast pump-dependent mothers with premature infants. J Perinatol. 2012;32(2):103-110.

21 Parker LA et al. Association of timing of initiation of breastmilk expression on milk volume and timing of lactogenesis stage II among mothers of very low-birth-weight infants. Breastfeed Med. 2015;10(2):84-91.

22 Lee J et al. Oropharyngeal colostrum administration in extremely premature infants: an RCT. Pediatrics. 2015;135(2):e357-366.

23 Prime PK et al. Simultaneous breast expression in breastfeeding women is more efficacious than sequential breast expression. Breastfeed Med 2012; 7(6):442–447.

24 Uvnäs Moberg K, Prime DK. Oxytocin effects in mothers and infants during breastfeeding. Infant 2013; 9(6):201–206.

25 Boundy EO et al. Kangaroo mother care and neonatal outcomes: a meta-analysis. Pediatrics. 2015;137(1): e20152238.

26 Acuña-Muga J et al. Volume of milk obtained in relation to location and circumstances of expression in mothers of very low birth weight infants. J Hum Lact. 2014;30(1):41-46

27 Nyqvist KH et al. Towards universal kangaroo mother care: recommendations and report from the first European conference and seventh international workshop on kangaroo mother care. Acta Paediatr. 2010;99(6):820-826.

28 American Academy of Pediatrics - Section on Breastfeeding. Breastfeeding and the use of human milk. Pediatrics. 2012;129(3):e827-841.

 

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