Entrevista com a Dra. Foteini Kakulas (2015)
Células estaminais no leite materno
Primeira descoberta
Em 2007, o Professor Peter Hartmann, em conjunto com o Dr. Mark Cregan e a sua equipa da Universidade da Austrália Ocidental descobriram pela primeira vez a presença de células estaminais no leite materno (Cregan et al. 2007). A Dra. Foteini Kakulas continua a fazer novas descobertas, nomeadamente, que estas células do tipo embrionário encontradas no leite materno podem ser controladas para se tornarem outro tipo de células, como ósseas, gordas, hepáticas, pancreáticas e cerebrais (Hassiotou et al. 2012). Estes factos levantam novas possibilidades no campo das fontes de células estaminais para utilização na medicina regenerativa, sem necessidade de destruir embriões no processo.
A Dra. Kakulas apresentou as suas descobertas pela primeira vez a um público europeu durante um Simpósio da Medela. A investigadora explicou que esta descoberta abriu novos caminhos a explorar, em áreas que incluem a investigação sobre o cancro da mama, a terapia de células estaminais e a medicina regenerativa.
Mais recentemente, a Dra. Kakulas apresentou as últimas descobertas realizadas pela sua equipa de biologia celular no 10.º Simpósio da Medela, em Varsóvia. A investigadora estava determinada a revelar o papel destas células no desenvolvimentos dos bebés amamentados. Os bebés ingerem milhões a milhares de milhões de células diariamente do leite das mães – será apenas por acaso? Podem as células sobreviver no estômago dos bebés?
A fascinante apresentação descreveu uma experiência recente na qual se utilizou um modelo de estímulo cruzado com ratos para seguir o destino destas células. Ao utilizar ratos que manifestavam um marcador genético (TdTomato), a investigadora pode seguir as células desde o leite materno até ao recém-nascido. Estas experiências demonstraram que se podiam encontrar células estaminais do leite materno, vivas, dentro do estômago – mas também no sangue, timo, fígado, pâncreas, baço e, até mesmo, no cérebro. Estas células tinham-se ainda integrado funcionalmente nestes órgãos e estavam a produzir proteínas específicas do órgão.
Estas descobertas fornecem a primeira evidência da sobrevivência das células estaminais no recém-nascido e indicam que estas células migram e se integram funcionalmente nos órgãos dos recém-nascidos, nos quais podem oferecer benefícios de desenvolvimento para os recém-nascidos.
A Dra. Kakulas comentou: "Estou orgulhosa de fazer parte desta excitante jornada de descoberta relacionada com as células estaminais no leite materno, apoiada pela Medela, a qual abre muitos novos horizontes de investigação. Dado que as células estaminais estão presentes em relativamente grandes quantidades no leite materno, estou particularmente interessada em descobrir mais sobre o papel que desempenham na regeneração dos tecidos e no desenvolvimento do bebé, bem como qual o impacto que podem ter em em caso de doença."
A Dra. Foteini Kakulas (antes Hassiotou) disse: "É fantástico ver a biologia do leite materno a desvendar-se e a ser capaz de demonstrar novas descobertas que levam o nosso conhecimento um passo em frente. Através do apoio financeiro da Medela, tem sido possível conduzir esta investigação, a qual demonstra mais uma razão pela qual o leite materno é muito mais do que nutrição para o bebé. Além disso, tem vindo a tornar-se claro que o leite materno pode servir como uma fonte ética, não invasiva e abundante de células estaminais – no entanto, muitas questões permanecem ainda sem resposta, especialmente sobre a função destas células no bebé amamentado. Sinto-me orgulhosa de fazer parte desta excitante jornada de descoberta e tenciono continuar esta investigação na Universidade da Austrália Ocidental."
